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O Orgulho e a Auto Estima: As duas faces de um mesmo Ego.


Constantemente, escutamos no dia a dia muitas expressões que se referem ao Ego como um vilão. Muitos exemplos nos cercam cotidianamente, afinal esta é uma palavrinha curta e aparentemente despretensiosa, mas que, muitas vezes ganha ares grandiosos. Como quando dizemos que “Fulano tem o ego inflado”, ou que “Ciclano poderia ser uma pessoa legal, mas têm um ego enorme”. Ou mesmo que “Beltrano precisa massagear o seu ego todos os dias”, e por aí afora...

Porém, se você der uma olhada ao seu redor neste exato instante, verá que o ego está em praticamente tudo a sua volta. Nós estamos constantemente interagindo com esta instância psíquica absolutamente 24 horas por dia, inclusive enquanto dormimos. Primeiramente, após uma breve observada no seu ambiente imediato, verá que tudo o que se percebe refere ao ego, pois, todo objeto percebido é permeado e interpretado pelo próprio ego.

A questão que nos interessa diz respeito ao encontro, quando este mesmo ego se depara com o outro. Como aconteceria em relação a qualquer outro objeto, este outro será então interpretado à luz das suas próprias condições egoicas. Aqui, sempre ocorre um fenômeno muito interessante que frequentemente se desdobra em duas opções.

Em alguns casos, estas duas consciências ao se encontrarem e se espelharem mutuamente, se reconhecem em suas ambivalências e conseguem transcender seus pontos vulneráveis, ditos frágeis, em cada um. Estes pontos normalmente se referem àquilo que reconhecemos neste Outro, e que de alguma forma, ainda, falta em nós mesmos.

Quando conseguimos aceitar isto com tranqüilidade, estamos no fundo aceitando nossas próprias limitações, e podemos encarar e aceitar nossos próprios limites. Este é um ponto que geralmente nos confunde, pois as limitações pessoais não significam necessariamente fragilidades. Porém, muitas vezes, focamos nos pontos fortes do outro, em detrimento do nosso ponto fraco, o contrário também pode acontecer como veremos adiante.

De qualquer forma, o que permite olharmos para este outro, e enxergar a sua ambivalência, seus pontos fortes e suas limitações, é podermos no fundo enxergar nossa própria ambivalência, no sentido da consciência das próprias características positivas e negativas.

Resumidamente, esta auto imagem consistente e consciente da sua auto aceitação se refere a própria Auto Estima. Em outras palavras sentimos estima, que é diferente do orgulho, pela nossa auto imagem enquanto ela é nutrida afetivamente por nós mesmos. Mesmo consciente de suas limitações ainda nutre um afeto positivo por si próprio, ou seja é estimado por si mesmo.

Ao encontrar um oposto na mesma condição, podemos dizer que estas consciências se abrem, ao passo que abandonam algumas defesas em relação a possíveis projeções na percepção do outro. As projeções geralmente se dão em decorrência de uma auto imagem distorcida, talvez por ainda não se sentir estimada ou amada por si mesma.

Quando se abrem para uma percepção mais limpa deste reconhecimento, ambos criam uma nova entidade referenciada em uma percepção complementar de si mesmo. Se for reforçada através do vínculo, ao longo do tempo a relação ganha uma identidade própria, que pode vir ou não a agregar outros membros e se tornar um grupo.

Outra possibilidade deste mesmo encontro, ou desencontro, é que, justamente pela falta de auto aceitação, as consciências estejam fechadas principalmente para si mesmas. Uma destas possibilidades de defesa é a negação dos atributos positivos do outro, enaltecendo assim seus próprios aspectos positivos. Mesmo quando estas mesmas características, tão enaltecidas por si mesmas, não representem traços de segurança propriamente ditos.

Desta forma, estes mesmos atributos que poderiam expressar os traços da auto estima, se manifestam como traços de orgulho, muitas vezes visto de fora como traços de arrogância ou prepotência. Mas que no fundo expressam uma verdadeira insegurança ou vulnerabilidade, enquanto ainda se olha para as próprias limitações como fragilidades, e não como pontos da própria condição que poderiam ser superados.

A palavra pré-potência reconhece que existe em si uma potência, mas que se manifesta, no entanto, de uma forma precoce ou imatura, ou talvez, de uma maneira prévia a própria realização. Nisto, entende-se que esta suposta potência se coloca acima da necessidade do reconhecimento do Outro, por isso se expressa como prepotente.

Na verdade, esta mesma prepotência está fugindo do encontro com a própria provação. Compreende-se que a falta de auto aprovação não parte necessariamente da própria potência em si, porém ela fica sombreada por alguma outra limitação real, ou crença limitante que na verdade é a insegurança propriamente dita. Enquanto não se aceita com verdadeira humildade os próprios limites eles não podem ser superados, e se compensam nos traços de orgulho. Isto cria uma defesa fixada em determinadas feridas do ego, que certamente vai refletir nas relações afetivas

Nesta linha de raciocínio, presumimos que os traços de orgulho, que emprestaram uma má fama ao ego, no fundo compensam os traços de insegurança e em grande medida os complexos de inferioridade. Desta forma, devemos ter bastante cuidado ao julgar e apontar o orgulho dos outros, pois ao fixarmos nossa percepção nestes traços, estaremos apontando para os próprios limites que ainda não conseguimos encarar.

Concluímos, procurando refletir que muitas vezes quando tentamos abandonar o próprio ego estamos na verdade tentando superar o orgulho, que como visto, se refere as próprias inseguranças relacionadas à falta de auto aceitação dos próprios limites Porém, estas mesmas limitações somente serão superadas quando forem bem reconhecidas e a aceitas. Resumidamente, só se muda aquilo que se tem consciência, e só se tem consciência do que se aceita.

O ego desta maneira é uma instância fundamental e necessária para a própria sobrevivência psicológica. Portanto,  é necessário para o processo de desenvolvimento psicológico que o ego seja transcendido e não abandonado, o que poderia ocasionar em danos profundos à noção de individualidade.

O trabalho de transcendência do ego, como veremos nos próximos textos, pressupõe um ego bem estruturado e coeso. De forma que não precise necessariamente se apegar demasiado aos traços de orgulho e nem tão pouco nos complexos para sustentar, através das defesas, o seu caráter e sua integridade psicológica.

O trabalho de autoconhecimento é o ponto fundamental e a linha de partida para qualquer processo de desenvolvimento. Por isso, acreditamos que o conhecimento da Psicologia Analítica têm em si o potencial de alavancar o processo de desenvolvimento humano em diversos sentidos.


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