Seguindo na trilha dos conflitos nos relacionamentos, hoje nos deparamos com um tipo muito específico de vínculo afetivo, aquele que nunca se esgota em suas possibilidades de satisfação. Uma vez que são inúmeras as maneiras de se realizar uma compulsão, que nunca se define por si mesma, podendo ser apenas reconhecida enquanto está se relacionando com sua cara metade, a obsessão.
O fruto deste relacionamento é o famoso caráter obsessivo-compulsivo, que pode se manifestar de inúmeras maneiras, mas sua característica principal se expressa somente a partir de um comportamento repetitivo ou estereotipado com algo ou alguém, em muitos casos consigo mesmo. Através de comportamentos e rituais obsessivos, mas que de alguma forma preenchem uma lacuna afetiva, e buscam compensar de maneira compulsiva uma sensação de falta.
Resumindo, a compulsividade se manifesta pela ansiedade ou a angústia gerada por um sentimento de falta, vazio ou incompletude, e se expressa em hábitos ou padrões de relacionamentos que se repetem obsessivamente. Porém, sem encontrar uma satisfação plena em si mesmos, o que poderia trazer uma suposta sensação de completude ou plenitude.
Estes comportamentos acabam reforçando ainda mais o sentimento de vazio após uma breve saciedade de prazer, justamente por não estarem conectados com a verdadeira fonte emocional de satisfação, mas apenas compensando esta falta. Este ciclo gera o caráter compulsório do comportamento que fica condicionado a repetição com cada vez mais intensidade, para que uma nova breve descarga de prazer possa anestesiar a mesma sensação de incompletude, prolongando assim por mais um período o enfrentamento do verdadeiro conflito.
Como é de se esperar, vamos jogando a sujeira para debaixo do tapete, e como diz o ditado, quanto mais sujeira maior o tapete, e uma hora já não sabemos onde estamos pisando, não é mesmo? Você já se sentiu assim alguma vez na vida em relação a algo ou alguém? Uma leve sensação de que está perdendo o controle sobre determinada situação? Talvez, todos nós já tenhamos passado por isso em algum momento da vida, e nem por isso nos tornamos maníacos obsessivo-compulsivos.
Em alguns casos pode-se até realmente vir a desenvolver algum tipo de transtorno neste sentido, aonde já exista uma pré-disposição estrutural em relação à isto. Mas em geral, todas as pessoas estão sujeitas a manifestarem este tipo de comportamento em algum momento de estresse ou vulnerabilidade emocional, no qual este vazio se acentue e se evidencie por algum contexto, desencadeando este tipo de sintoma. Contudo, findada e elaborada a situação pontual, reassume-se o controle a partir de uma nova estabilidade emocional.
O problema ocorre quando esta suposta estabilidade emocional não é uma constante, tornando-se frequente o comportamento de fuga ou esquiva pela busca de formas imediatas e instantâneas de prazer que hoje são inúmeras. A máxima que impera neste contexto diz respeito à simultaneidade de pseudo satisfações sensoriais que anestesiem um sentimento mais profundo de ansiedade ou angustia. O enfrentamento da situação que está gerando a ansiedade seria a única maneira efetiva de resolver o problema..
Sabemos que são inúmeras as formas de darmos significado para este vazio, assim como são muitas as maneiras de representarmos e expressarmos a ansiedade. Sabemos também que a ansiedade diz respeito a uma maneira particular de se relacionar com o tempo. De forma que se gera um descompasso entre o tempo psicológico e o tempo cronológico.
Este descompasso também é um sintoma gerado pela distorção da percepção do tempo, que por sua vez é ocasionada por um mecanismo de defesa relativo a algo que não estamos conseguindo ver, aceitar ou elaborar no tempo presente. Assim, a consciência automaticamente se projeta para um futuro próximo, ou nem tanto, em que possa brevemente escapar do infortúnio do presente.
Em alguns casos a consciência foge para o passado, permanecendo fixada em algum ponto em que o sentimento de vazio não predominava e sentíamos a aurora da vida em todo o seu resplendor. Em algum momento do dia em que a ansiedade toma o controle, respiramos fundo e suspiramos... Ah! Como eram áureos aqueles verdes tempos! Quando percebemos estamos repetidamente evocando estas lembranças de uma maneira compulsiva como uma forma desesperada de recuperar a plenitude, uma vez vivida e outrora perdida.
Como se diz, a depressão é o excesso de passado e a ansiedade é excesso de futuro. O bom mesmo é vivermos no presente, no aqui e agora, O agora é um presente. E como todo bom presente deve ser vivido com toda sua intensidade, seja nos seus aspectos positivos como nos negativos, daí tiramos o verdadeiro aprendizado e damos significado para a vida em si.
O medo é o grande inimigo que tenta impedir toda esta realização, e que geralmente está por trás da ansiedade. O autoconhecimento é o único caminho para lidar com estes sintomas, e aprender a controlá-los. Muitas vezes um atendimento psicológico pontual ajuda a conhecer melhor a natureza destes sintomas, para que a partir deste entendimento se possa intervir assertivamente indo diretamente ao cerne da questão, e cortando o mal pela raiz.
