Quais são
os principais caminhos para a construção de uma nova masculinidade?
Aproximando-se
o dia dos pais, chega um momento em que as famílias estão se preparando para
mais um reencontro, a fim de reforçar os laços parentais que unem as diferentes
gerações. Quando pensamos na figura arquetípica do Pai, nos vem logo à mente a
imagem de um herói, alguém que através da sua força ancestral seria
capaz de nos prover e proteger contra as intempéries da vida e da
natureza.
Pelo menos
este é um ideal, que para a grande maioria das pessoas nunca é definitivamente
realizado. Desta forma, o dia dos pais, enquanto este glorioso reencontro que
assistimos nos comerciais da televisão, na prática muitas vezes sai um pouco
diferente do idealizado. Uma vez que as relações humanas geralmente são
carregadas de expectativas e frustrações.
De alguma
forma, no nível psicológico e até mesmo evolutivo, é muito bom que este ideal
de paternidade nunca seja completamente satisfeito, porque é
justamente nesta falta que nos realizamos como pessoas e como indivíduos.
Dizemos que
esta figura arquetípica idealizada do Pai enquanto um herói ou semi
Deus com poderes onipotentes, e o contraste com a figura humana
repleta de limites, representa uma chave para o nosso próprio desenvolvimento
pessoal e é parte de uma grande engrenagem muito importante que representa o
nosso próprio processo de individuação.
Quando
conseguimos compreender e aceitar as limitações da figura paterna,
podemos assumir uma possibilidade de superação e a responsabilidade por esta
transcendência dentro de um processo evolutivo ancestral. Isto diz respeito ao
desenvolvimento ontogenético (a nível individual) e filogenético (a nível da
espécie).
A figura
do Pai como um herói é
muito válida enquanto o temos na posição de alguém que nos ajuda a enfrentar os
nossos medos. Quando o colocamos no lugar daquele que ainda enfrenta o medo em
nosso lugar, criamos algumas falsas expectativas que inevitavelmente acabam sendo
frustradas.
Isto acontece
porque em algum sentido ainda carregamos aquela imagem do pai que trazemos da
infância, como aquele que possuí estes poderes mágicos e onipotentes. Sendo
assim, ele só não usaria estes poderes porque acreditamos que não nos ama, ou
não nos aceita. Para sair destas situações projetivas que impedem o processo de individuação, precisamos perceber
quais medos e inseguranças ainda possam estar sendo projetadas na figura do
pai.
A partir
disso, precisamos aceitar estes medos, assim como as limitações
pessoais do próprio pai que estão envolvidas nestes sentimentos de
insegurança. Neste sentido, seguimos na máxima de incluir para transcender,
a partir da aceitação e o enfrentamento destes dilemas, teremos condições de
desenvolver recursos pessoais e deixar um legado cultural e genético ainda mais
evoluído para os nossos descendentes.
Quando
ampliamos o leque inter geracional percebemos que nossos pais supriram a falta
que nossos avós deixaram, que por sua vez supriram as faltas deixadas pelos
nossos bisavós, e assim caminha a humanidade. Este é o sentido de evolução da
ancestralidade, cada geração precisa caminhar um pouco no sentido de
desenvolver recursos a partir das demandas impostas pelas condições históricas
de seu tempo.
Enquanto
estou escrevendo este artigo, inevitavelmente me deparo com as minhas próprias
condições pessoais, neste exato momento percebo que preciso lidar com algumas
dificuldades que envolvem as demandas de me constituir enquanto sujeito e como
homem, nos dias de hoje.
Para isto é
preciso definir as decisões que estabeleço para a construção da própria
masculinidade. Assim, me deparo com algumas questões históricas típicas da
minha geração, entre elas a grande demanda que herdamos de ressignificar o
papel do masculino dentro das sociedades modernas.
Principalmente,
a partir da necessidade dos homens se posicionarem de uma forma saudável e
assertiva, perante as transformações do feminino e do empoderamento mais do que
legítimo das mulheres, sem necessariamente assumir a velha posição controladora
e repressora do sistema patriarcal que nos formou. O que
inevitavelmente se dará pela construção de uma nova paternidade.
Isto implica
em reconstruir o papel de pai, saindo do lugar do poderoso provedor
e dividindo estes privilégios com as mulheres, o que demanda conciliar o papel
do profissional com o do cuidador e parceiro afetivo, aceitando a
multiplicidade e diversidade que envolve estes papéis dentro das condições
históricas atuais.
Estes novos
papéis exigem de nós homens, que reconheçamos e desenvolvamos uma capacidade de
cuidado, a partir da integração com um lado mais sensível que não
necessariamente fira a a masculinidade. Mas pelo contrário, que agreguem valor
a partir da reintegração com o feminino, partindo a princípio com a capacidade
de exercer o auto cuidado com amor próprio.