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O Princípio da Cooperação



Quando falamos em cooperação logo nos vêm à mente a imagem de um grupo de pessoas unidas e trabalhando por um ideal compartilhado, o que não deixa de ser extremamente válido e verdadeiro. Por outro lado, se procurarmos expandir este conceito, procurando enquadrá-lo dentro de um paradigma integral, poderíamos obter outra visão. De um organismo forte e sadio, lutando por um único ideal que é a própria unidade. Este sentimento provém na sua essência da genuína sensação de transcendência, que uma prática ligada a valores e propósitos sociais ou ambientais pode proferir. A partir de experiências em que a transpessoalidade pode aflorar e se manifestar, rompendo com o véu do isolamento, desfaz-se a crença de que a verdadeira satisfação se encontra somente nas realizações individuais.

Hoje sabemos que estas crenças só construíram castelos de ilusões, contribuindo para a aquisição de um modo de vida moderno no qual nos sentimos solitários em meio a uma multidão. Talvez esta seja a maior contradição da modernidade. Falamos cada vez mais em sustentabilidade, porém, ainda possuímos comportamentos e hábitos que não se sustentam mais na vida moderna. Como afirma Mahatma Gandhi, "devemos ser a mudança que queremos ver no mundo", ou seja, qualquer transformação em escala global só será possível, quando houver uma mudança no padrão de consciências individuais.

Assim, falando em cooperação percebemos que esta palavra carrega um significado amplo, e que também nos remete a um sentido de unidade. Evoca a imagem arquetípica de um tempo em que éramos interligados entre a nossa espécie através dos grupos primitivos, essenciais à nossa sobrevivência e preservação enquanto seres humanos. Nos sentíamos também profundamente ligados e conectados com a terra, pois dela dependíamos e a ela nos resignávamos em atitude de respeito e louvação. Este sentido do sagrado na relação com a terra foi sendo profundamente alterado durante milhares de anos de civilização, mas ainda hoje alguns grupos conseguem acessar, através do resgate e do estudo e práticas de tradições milenares, estados de consciência que evocam estas imagens arquetípicas provenientes do próprio inconsciente coletivo

Tais estados de consciência nada mais são do que a sensação de paz e harmonia que provêm da noção de estarmos profundamente conectados a um todo maior, e do qual nos sentimos partes como células de um mesmo organismo. O trabalho da psicologia arquetípica é o de efetuar uma escavação arqueológica em nosso inconsciente, para dali suscitar as imagens carregadas de simbolismo que nos permitam entrar em contato com essas potencialidades adormecidas. 


Estas potencialidades estão ligadas a saberes ancestrais e intuitivos, que temos dificuldade de incorporar ao nosso dia a dia de forma efetiva, uma vez que o ritmo do cotidiano não nos permite parar e contemplar, ou vislumbrar tais lampejos de consciência. Geralmente, isso rapidamente volta para o inconsciente e fica guardado numa gaveta, até que uma nova situação seja capaz de nos sensibilizar para um aspecto humano adormecido. Isso se manifesta através de uma forte emoção que muitas vezes nos arrebata, pois quase nunca estamos preparados para enfrentar algumas questões tão naturais e humanas, como a morte, a perda ou o abandono.

É neste momento em que situações radicais, como algumas tragédias, despertam um profundo sentimento de solidariedade e cooperação. A pergunta que fica é: se existe este sentimento que emerge na coletividade em situações de desespero de uma forma tão arrebatadora que chega a nos emocionar, porque não conseguimos ainda aplicar este profundo potencial humano de cooperação nas nossas relações cotidianas? Quando conseguirmos construir sociedades baseadas no princípio da cooperação, e abandonarmos o padrão da competição, todos seremos vitoriosos. Não haverá melhores e piores, mas sim diferentes e únicos, pérolas preciosas de unicidade. Todos seremos autênticos, pois entenderemos que na diferença é que reside o valor.  Na soma das diversidades está a presença da unicidade maior da qual fazemos parte.

Ter consciência do nosso lugar e importância, enquanto agentes ativos e coletivos de transformação ambiental e social, se faz na medida em que somos capazes da alterar nossos padrões de consciência, entendendo que toda mudança parte de dentro para fora, do micro para o macro. Somente no vazio do silêncio é que se pode ouvir as coisas que precisam ser transformadas. Até que possam vingar as sementes das próprias idéias e ações, em outras palavras devemos dar o melhor do que nós temos, a princípio para nós mesmos. Para assim, gerar um campo de transformação, abrindo caminho para as mudanças políticas, sociais e ambientais que queremos ver no mundo. Tudo parte de dentro de nós mesmos, nas pequenas ações sustentáveis, primeiramente com nosso corpo, em seguida com nossa casa, nossa família, comunidade, sociedade, planeta, e assim por diante...

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