Geralmente associamos os benefícios do autocuidado na saúde
mental à qualidade de vida e a sensação de bem-estar que naturalmente o ato de
estar disponível para si mesmo produz. Sabemos que toda a atividade que
implique na atenção sobre si é um processo autorregulatório da consciência que
tende sempre a buscar o equilíbrio e por conseguinte a saúde. Porém, podemos
pensar o autocuidado na saúde mental a partir de uma série de fatores e
perspectivas que podem impactar diretamente o funcionamento do aparelho psíquico.
A primeira, talvez a mais óbvia, é o desenvolvimento da
autoestima. Utilizamos a palavra estimar no sentido de admirar, estimamos
aqueles pelos quais nutrimos bons afetos. Assim, cuidamos de quem gostamos, ao
mesmo tempo que gostamos de sermos cuidados, o que já se constituí num ciclo
virtuoso por si só. Mas porque será que é tão difícil colocá-lo em prática?
Primeiramente porque somos na qualidade de mamíferos, animais
sociais e interdependentes que temos fortes necessidades de apoio e suporte
emocional como confiança e pertencimento. Desta forma, é muito difícil exercer
o autocuidado em situações de dependência emocional, ao mesmo tempo em que é
ideal para desenvolver um senso de autonomia e autoconfiança em relação aos aspectos
ligados à manutenção e sustentabilidade da própria vida. Como todo o quadro de
dependência, o ciclo vicioso é muito difícil de ser quebrado.
Na prática, tanto o cuidado de si quanto do outro são importantíssimos
para a saúde mental. Uma vez que cuidando de quem nos cuida, exercemos também o
autocuidado com responsabilidade e liberdade, com escolhas conscientes através
das redes de afeto em relações de confiança e respeito, considerando as
necessidades e valores individuais no que significa cuidar e ser cuidado para cada
sujeito.
Quando cuidamos das subjetividades, no sentido do
reconhecimento do que é essencial para se sentir cuidado, atestamos a
individualidade única da pessoa, a fazendo se sentir validada e aceita pelo que
ela verdadeiramente é e precisa, nutrindo assim sua alma. Assim como a autopercepção
sensível para o reconhecimento das próprias necessidades também se mostra como
uma abertura para si mesmo e por consequência para a própria alma, gerando desta
forma uma possibilidade de autorregulação do consciente com o inconsciente.
Para a psicologia analítica a anima, representante da alma e
dos valores femininos dentro de cada ser é uma fonte de significados ligados às
forças que geram e mantem a vida através da regulação dos processos vitais, que
sempre buscam a saúde através do equilíbrio. Historicamente, a função do
cuidado sempre foi atribuída às mulheres, porém, o desenvolvimento do
autocuidado, principalmente no masculino, é uma forma de encontrarmos um
equilíbrio natural nas relações. De forma a prevenir os quadros de dependência
emocional e os relacionamentos tóxicos.