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As Doenças Pulmonares e o Empobrecimento das Relações




De acordo com a visão da psicossomática, o elemento AR constitui o meio através do qual estamos em constante relação com o mundo externo. As doenças respiratórias, causadas por agentes ou não, refletem geralmente uma baixa qualidade de troca com o meio. No aspecto emocional, não temos como impedir a ação de microrganismos. Porém, quanto menos defensiva for nossa atitude emocional perante o meio, mais saudáveis tendem a ser nossas trocas.

Encarar este período de quarentena com um caráter de superação, principalmente nos relacionamentos, que devido ao excesso de proximidade ou de distância, tendem a naturalmente se desgastarem e eventualmente romperem, também pode ser uma atitude preventiva no sentido imunológico...Publiquei este post no início da pandemia, e passado mais de um ano de trabalho intenso na clínica, a fim de suprir toda a demanda de atendimento que surgiu neste período. Agora podemos olhar com um maior distanciamento, a partir da possibilidade da imunização de ao menos parte da população.

Refletindo agora sobre o primeiro parágrafo deste texto, e pensando se seria possível não termos uma atitude defensiva neste contexto, ao menos que pudesse defender o último direito que nos foi legado, o direito à vida. Como sabemos, este é um valor e um direito soberano acima de qualquer outro, e sabemos também, graças a todo o conhecimento filosófico e ancestral que nos foi herdado, que a consciência deste direito e deste valor soberano é algo tão essencial para a nossa espécie que nos constitui como humanos.

Porém, defender a vida sem se identificar com nenhum valor escuso, seja político, ideológico ou doutrinário, também é uma questão de direito, ou quem sabe até mesmo de dever cívico, no nosso respectivo contexto histórico. Confesso que deixei o site e as redes sociais de lado neste período, para mergulhar profundamente no processo clínico e nos desafios psicológicos extremos que a pandemia trouxe para cada um de nós naquele momento.

Não era um tempo de respostas, era um tempo de perguntas, e ainda agora estamos apenas iniciando um tempo de reflexão. Algo muito profundo que toca nas raízes da relação da humanidade com a natureza. Estou procurando, por critério metodológico de análise, observar a partir da ótica da psicologia integral que procura abordar os fenômenos partindo da perspectiva de dentro para fora, do micro para o macro, ou quem sabe do individual para o coletivo.

Num primeiro momento, o maior desafio pessoal de cada um era permanecer vivo, perante um custo social evidente. Neste sentido, procurei mergulhar no universo da psicossomática, buscando a partir de uma perspectiva junguiana, compreender o sentido simbólico deste sintoma social. A principal medida de tratamento, ainda paliativa naquele momento era o isolamento social. O que nos leva a refletir para um evidente adoecimento das relações. O significado deste adoecimento é muito amplo, e antes de mais nada, cada um só poderá interpretá-lo a partir da sua própria subjetividade e da sua perspectiva pessoal igualmente adoecida.

Alguns aceitaram e lidaram bem, muitos entraram em verdadeiras crises sem este "suporte" (ou dependência) social e emocional. O que inundou as recentes clínicas virtuais que se organizavam da maneira que podiam para dar conta da demanda reprimida em saúde mental, que simplesmente estava compensada em relações sociais que apenas reforçavam um processo de desequilíbrio social, ambiental e sobretudo ético.

As crises psicológicas geralmente apresentam processos de descompensação por meio de sintomas que variam muito, porém se destacaram neste período:

- Os processos compulsivos com abusos de substância de todo o tipo;
- Os impulsivos, com aumento de violência e agressividade, com números marcantes no aumento dos casos de violência doméstica;

- Os processos ansiogênicos e depressivos, já associados à situações de emergência e desastre;

Aos poucos poderemos começar a avaliar todos os dados quantitativos e qualitativos deste período. Por enquanto estamos nos curando coletivamente de um estresse pré e pós traumático, uma vez que não temos certeza do que ainda está por vir. Porém, temos a consciência de que a cura representa o equilíbrio dos pilares sociais, ambientais e sobretudo éticos que regem a relação de todas as partes entre si, e através delas com o todo.
A COVID-19 trouxe muitos questionamentos ao processo imunológico da nossa sociedade líquida e a maneira com a qual estávamos nutrindo nossos vínculos. Como foi dito no início do texto, as doenças que afetam a capacidade respiratória apontam para uma baixa troca com o meio, podendo sugerir uma reflexão sobre a superficialidade ou o empobrecimento das relações de determinado indivíduo ou sistema.

Sugiro especificamente para este momento a leitura de alguns textos do blog. Estes temas já eram abordados por aqui desde 2016, e cada vez mais parecem pontuais e urgentes de serem discutidos. Sobretudo, os que falam sobre os relacionamentos impulsivos, compulsivos e abusivos. Considero importantíssimo ampliar um espaço de discussão social destes temas e acredito profundamente que a consciência é o principal caminho para a mudança,

Porém, a ação e articulação coletiva em defesa da consolidação dos direitos humanos, principalmente dos preceitos universais que regem as leis da vida, é a única maneira de se restabelecer simbolicamente o processo imunológico social que precisamos. A psicossomática nos ensina que o sintoma escolhe um determinado órgão com caráter simbólico dentro do funcionamento do organismo, para expressar através desta necessidade de cuidado mesmo que paliativo uma necessidade do todo.

No início da pandemia eu tive crises de psoríase, como já tinha de costume nos cotovelos desde a infância. Surgiram com bastante agressividade nos tornozelos e subiam em direção aos joelhos. Sabendo que o principal risco seria que afetassem as articulações, que já começavam a doer. Metaforicamente, o isolamento social sugere o cuidado do nosso tecido social enrijecido e prestes a rachar. Tal qual as placas de psoríase pelas quais meu sistema auto imune consumia as bases da minha estrutura emocional. Enquanto eu assistia impotente, tentando resistir como o casco de um navio às ondas tempestuosas que se agitavam em mar revoltoso.

Felizmente o casco foi grosso o suficiente para suportar os solavancos, e a espessura da pele reduziu significativamente. Ainda restaram as dores nas articulações, sobretudo nos joelhos. O que apesar da recentemente superação emocional a partir da imunização artificial pela vacina, ainda sugerem consultar um especialista.

Deixe nos comentários do site ou da rede social em que estiver lendo este texto, quais foram seus principais sintomas físicos ou psicológicos deste período. Será necessário construir espaços virtuais para elaboração simbólica em um nível social-cultural e ambiental-sistêmico. De qualquer maneira, ainda precisamos refletir sobre os padrões dos nossos relacionamentos, para que possamos atingir um nível de consciência que represente simbolicamente a cura coletiva, ou o ponto de equilíbrio de nossa sociedade adoecida.
Psico-Online

Atendimento: Fábio Lessa Peres

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