Muitas pessoas relatam os
sintomas da depressão como
um grande vazio existencial, como se a vida perdesse o sentido de uma maneira em geral. De alguma forma,
podemos considerar a depressão como uma psicopatologia típica dos nossos
tempos, o que nos leva a refletir sobre os modos e estilos de vida
característicos desta época.
Sabe-se que a depressão possui um mecanismo
neuroquímico bem característico, que pode ou não ser estimulado e reforçado
pelos comportamentos. Assim, a grande maioria das pessoas que sofrem deste mal
podem se beneficiar de um processo terapêutico no combate a estes sintomas, mas
não se trata apenas de combater os sintomas, é preciso se compreender em que ponto a vida
perdeu o sentido, e atacar o mal pela raiz.
Desta maneira, caímos em um questionamento
filosófico mais profundo, afinal o que dá sentido para a vida humana? Muitos
teóricos procuram compreender como a vida moderna nos afasta de elementos
essenciais para nossa saúde, porém, não existe um consenso sobre estes
aspectos. O que nos leva a concluir que não existe nenhum tipo de receita ou
fórmula para a felicidade. Assim, o sentido da vida para cada um é único e
particular. Como aponta Carl Jung “o homem não pode suportar uma vida sem
sentido.”
A palavra sentido remete
não somente aos objetivos que damos à vida, mas no aspecto
subjetivo ao significado que
representam nossas escolhas. Quando percebemos que a vida perde sentido, mesmo
que inconscientemente, começamos a sentir um vazio existencial. Como
consequência as coisas vão perdendo o brilho e tudo parece opaco. A vida perde
literalmente o colorido.
Psicologicamente falando, dizemos que
deixamos de empregar a energia psíquica (libido) nas atividades cotidianas, uma
vez que não percebemos mais possibilidades de satisfação nestas práticas. Aos
poucos, vamos deixando de investir a libido em nossa vida, não apenas no
aspecto sexual, mas na autorrealização de uma maneira geral. O principio que
atua aqui é o da conservação da energia que se baseia em economizar a libido para investir em algo mais satisfatório.
O papel da orientação psicológica neste
contexto é ajudar a recuperar este sentido, percebendo fundamentalmente o
significado que estas escolhas representam para cada sujeito. Esta reflexão
pretende compreender qual o simbolismo que se atribuí à vida, buscando
olhar para a história pessoal de cada um. A fim de entender como ela ajudou a
formar a pessoa que se é.
A partir desta análise se traça um fio
condutor, que integra o passado ao presente e aponta os caminhos que farão mais
sentido para esta história de vida e para cada indivíduo em particular. O que
representa para a psicologia simbólica junguiana o processo de individuação.
Por fim, como toda boa história ela precisa
ser contada, é através deste discurso que o sujeito elabora a narrativa de sua
vida, juntando os pontos, tecendo escolhas e atribuindo novos sentidos e significados à vida.
A importância da fala e da linguagem para a
análise é fundamental, é através dela que se reatam os pontos que selam os
verdadeiros compromissos com a própria vida. Por meio de uma escuta
qualificada pode-se
encontrar na própria fala novos caminhos, exercendo escolhas com
responsabilidade e autonomia.