Nos relacionamentos entre pais e filhos um dos principais motivos de conflito é sem dúvida a expectativa exagerada. Até porque, como já vimos no último texto, sobre conflitos nos relacionamentos, a criança molda sua identidade e personalidade com base na leitura da expectativa que os pais projetam nela, buscando sempre seu amor e aceitação. Isto se dá justamente pelas características de dependência material e emocional que envolve o vínculo entre pais e filho. Por isto que para as crianças sentir esta aceitação através do amor dos pais, trata-se de uma questão de sobrevivência emocional, principalmente até os três anos, período em que está se formando o ego.
Como foi dito, esta leitura da expectativa dos pais é natural por parte da criança, porque justamente serve como referência para a formação da personalidade. O grande problema começa na expectativa exagerada que visa projetar ou transferir para os filhos de forma inconsciente, as fragilidades e dificuldades pessoais dos próprios pais.
É muito comum vermos pais que transferem seus projetos frustrados para os filhos, que carregam a obrigação de realizar aquilo que seus pais não realizaram. Acontece que muitas vezes, os filhos não têm identificação nenhuma com os projetos dos pais, até porque o contexto histórico pode mudar profundamente de uma geração para outra, e cada vez de uma forma mais rápida. Porém, os filhos se mantém conectados emocionalmente ao projeto dos pais, e mesmo que busquem a todo custo satisfazê-lo carregam consigo uma insatisfação por aquilo que abriram mão. Ou em outros casos os filhos até conseguem seguir seu próprio caminho, mas se sentem culpados e frustrados por terem decepcionado seus pais.
Por parte dos filhos, o conflito se agrava pelo fato de que estas frustrações que permeiam os relacionamentos são constantemente rebatidas com agressividade e muitas vezes com rejeição. Esta rebeldia que historicamente vem sendo construída como algo natural da adolescência, não necessariamente precisaria ser assim. Esta agressividade é um sintoma, e o grande perigo se encontra quando um traço social patológico começa a se naturalizar, podemos dizer que a própria sociedade também adoeceu.
O processo somático deste traço social patológico é a negação da agressividade, através da concepção de que isto é um problema típico da adolescência, que é algo natural e os pais não tem nada a ver com o problema. Desta forma, eximem a sua responsabilidade e transferem a culpa para os filhos. Na verdade, o papel dos pais seria o de ajudar os filhos a passarem por estas fases do desenvolvimento, auxiliando-os a perceber quem eles verdadeiramente são.
Os pais podem reconhecer nos filhos seus melhores talentos e desejos e estimulá-los a se desenvolverem neste sentido. Mas enquanto impuserem suas expectativas sem levar em consideração a individualidade única de quem e com quem está se relacionando, provavelmente alimentarão um conflito interno nesta criança, que no futuro será contra transferido para os pais, em forma de agressividade e rejeição. No fundo tudo implica no trabalho da construção da empatia e da saída das posições egocêntricas, tanto por parte dos pais quanto dos filhos.